Reação lenta e falhas estratégicas dificultam buscas por fugitivos de Mossoró, dizem especialistas

02 de Março 2024 - 07h45
Créditos: Reprodução Record

 

Falhas estratégicas e demora para reação dificultam a captura dos dois fugitivos da penitenciária federal de Mossoró (RN), dizem especialistas em segurança pública ouvidos pelo R7. Deibson Cabral Nascimento e Rogerio da Silva Mendonça conseguiram escapar na madrugada em 14 de fevereiro. O Ministério da Justiça afirma que destacou um efetivo de 540 agentes que estão empenhados na força-tarefa de busca, que chega ao 18º dia neste sábado.

Para o especialista Leonardo Santana, alguns fatores podem ter uma relação próxima com as dificuldades de captura dos presos. "O primeiro item foi o tempo que levou até que a fuga fosse percebida. Essa demora é extremamente prejudicial, caso se queira fazer uma captura em um curto espaço de tempo", afirma.

De acordo com o especialista, o segundo ponto são as conexões criminosas dos fugitivos. "Eles fazem parte de uma facção criminosa que tem muito poder, e a gente fala também de muito dinheiro. Eles devem ter conseguido fazer esse contato por telefone, uma tecnologia que pode ter ajudado na fuga com acesso a mapas e a pontos de melhor deslocamento para uma movimentação mais rápida", avalia.

Santana aponta ainda a demora até que as forças se reuniram para realizar a busca. "Esses elementos, realmente, colocam as instituições públicas em uma situação extremamente delicada", avalia. 

O Ministério da Justiça informou em nota que integrantes da elite da PF (Polícia Federal) e das operações especiais da PRF (Polícia Rodoviária Federal) chegaram em Mossoró na manhã de 16 de fevereiro. 

Da PF, foram 18 integrantes do Comando de Operações Táticas (COT). Da PRF, foram sete policiais do Grupo de Resposta Rápida (GRR), unidade de pronto emprego e operações especiais da corporação

Para o também especialista em segurança pública Antônio Testa há indícios de que houve conivência de pessoas de dentro do sistema prisional para a fuga.

"Certamente, os fugitivos tiveram algum tipo de apoio. Nesses casos, a logística é fundamental. Todas as análises que fizemos indicam que aquela fuga seria muito difícil sem a conivência de quem quer que seja. Como conseguiram sincronizar a fuga e sair tranquilamente?"

Leonardo Santana destacou também a necessidade de um gerente de crise. "Uma pessoa com experiência de campo, para administrar as diversas forças de segurança utilizadas nesse processo. Sem isso, não é possível fazer muita coisa", diz.

De acordo com o Ministério da Justiça, foi criado o Comitê Multidisciplinar da Secretaria Nacional de Políticas Penais para fiscalizar periodicamente as estruturas físicas e os equipamentos utilizados pelas cinco penitenciárias federais. 

Santana aconselha que seja colocada em prática um estratégia de comunicação. "Não apenas com quem vai fazer o trabalho de busca e captura, mas também com a comunidade, informando as características e quem são os fugitivos, orientando essas pessoas a como proceder caso os vejam", afirma.

"Tudo isso por intermédio de todo e qualquer tipo de plataforma de comunicação, desde panfletos que possam ser lançados, de um helicóptero, de um drone, para informar quem não tem acesso à internet ou ao telefone, até propaganda em aplicativos [para quem tem acesso], por exemplo", enumera. 

Testa afirma que os fugitivos podem estar passando por dificuldades.

"Eles devem estar em uma situação muito difícil, a não ser que tenham cobertura. A gente sabe que a logística é fundamental. Alguém tem que estar ajudando com alimentação, informação, eventualmente, medicamentos e tudo mais. Se isso está acontecendo, vai ser muito difícil pegá-los."

"É muito provável que eles sejam mortos em confronto com a polícia", acrescenta.

Outra estratégia aconselhada por Leonardo Santana é utilizar meios mais adequados para busca e captura dos presos. "É preciso usar a tecnologia: drones, helicópteros e equipamentos que possam fazer uma busca, uma varredura noturna, uma varredura termal", enumera.

Com informações de R7